Platão, a liberdade e a ética cristã

A natureza segue um curso inexorável. A natureza é programada para ser o que é. O gato sempre será gato, agirá como gato, haja o que houver. O gato segue seus instintos e isto é imutável. Basta estudar um único elemento da espécie felina e se saberá exatamente como todos os gatos se comportam.
O ser humano é diferente. O homem é um animal moral. A razão o distingue dos outros animais e a moral confirma sua superioridade. Isto quer dizer que, apesar dos seus defeitos, o homem ainda (talvez sempre o será) é superior aos gatos. Sua superioridade reside, principalmente, na capacidade de fazer escolhas: escolhas de ordem moral.
A imposição moral não é um padrão comportamental que limita as ações humanas, não se trata de uma punição por um agir inadequado ou uma repreensão por falha de caráter. Não! Moral é exatamente o contrário destes conceitos: é a plena liberdade de ação, é a satisfação de ser livre para cumprir uma conduta, incondicionalmente.
Desta forma, podemos conceituar a moral como sendo o conjunto de deveres e obrigações que impomos a nós mesmos, independentemente de qualquer recompensa ou de ser punidos pelos nossos atos.
Enquanto a moral está no âmbito da individualidade e pessoalidade (impomos a nós mesmo) a ética se estende à coletividade, é a aplicação exterior dos deveres e obrigações. Ética e moral são as duas faces da mesma moeda.
A ética sempre foi uma preocupação de natureza filosófica e teológica aplicada a conduta humana, de caráter universal. Os gregos, no ocidente, foram os primeiros a dissertar sobre o assunto. Sócrates, Platão e Aristóteles legaram-nos contribuições filosóficas importantes nesta área. Tal pressuposto de ordem universal nos diz que o homem sempre se preocupou em pautar suas condutas por um princípio que fosse o mínimo aceitável e que visasse um equilíbrio em suas relações sociais. Ou seja, o viver bem, em sociedade, passava pelas observâncias das regras morais.
Para os gregos a origem destes elevados princípios que regiam a vida em sociedade, estava no plano metafísico, transcendente. Platão, por exemplo, invocava sua teoria da imortalidade da alma para explicar a aplicação da moral nas condutas humanas. A alma (intelecto), parte imortal do ser humano, contemplou as realidades inteligíveis no mundo metafísico antes de encarnar (se juntar ao corpo, à matéria) e são estas realidades transcendentes que permitem determinar o valor moral da existência humana.    
Conforme podemos observar a ética não é uma prerrogativa cristã, porém, existe uma ética cristã. Neste aspecto, cumpre-nos entender o que se trata e qual é o alcance desta ética, qualificada como cristã.     
Viver uma vida pautada por um comportamento ético cristão, - diferentemente do significado grego -, é viver uma vida de acordo com o caráter de Deus.  E como saberemos exatamente qual é o caráter de Deus? De qual forma poderemos conhecer este Deus que é o paradigma de um comportamento ético?
A resposta é uma só. Deus revela sua vontade e seu caráter através da Bíblia. Assim, o cristão, extrai das Escrituras todo o conhecimento necessário para resolver as questões éticas. O viver correto e justo do cristão é, sobretudo, um viver de acordo com as orientações contidas no Livro Sagrado.  
Adotar um padrão de comportamento moral, é observar um conjunto de deveres independente de quaisquer recompensas. Isto quer dizer que a moral pressupõe liberdade no agir. Ou seja, o agente realizador da conduta, o homem, responde pelos seus atos livremente e traz consigo o peso desta responsabilidade.
Deste modo, agir eticamente, em cumprimento de um dever moral, é um ato de livre escolha do homem. A Bíblia contém diretrizes e normas que servirão como guia, como bússola no sentido de orientar o homem nas suas mais diversas decisões que, invariavelmente, serão tomadas durante toda a vida. Porém, cabe ao homem, seguir ou não tais diretrizes. A decisão última, em cumprir os preceitos bíblicos está no âmbito da liberdade humana.
É em decorrência desta liberdade que seremos julgados pelos nossos atos. Se as suas escolhas foram pautadas nos preceitos da Palavra de Deus, consequentemente, sua conduta, diante da sociedade, se revestirá de justiça e reverberará por toda a eternidade.

Neste propósito, a liberdade é imprescindível para determinar a responsabilidade humana. O homem não é escravo de um determinismo divino que o tornaria incapaz de responder pelos seus atos, do contrário, é livre o suficiente para viver de acordo com suas próprias escolhas, assumindo, doravante, as consequências que delas decorrem.  

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