LULA, O BONECO VENTRÍLOCO NAS MÃOS INVISÍVEIS DO CAPITALISMO


Até que ponto o atual Estado democrático de direito serve como propósito de uma política verdadeiramente comprometida com os princípios teóricos marxistas?

No âmbito do protestantismo evangélico (do qual faço parte), existe uma organização que, embora não seja representativa, faz um ruído desagradável entre os evangélicos conservadores e algum sucesso entre os adeptos da esquerda política, tal movimento é conhecido como “Frente de evangélicos pelo Estado de direito”. O movimento criado em 2016, tem um nome pomposo que traduz um sentimento verdadeiro de qualquer cidadão brasileiro – quem não quer um Estado de direito funcionando perfeitamente? Escolhi este movimento de esquerda, como exemplo, apenas como pretexto para discutir um tema tão caro ao marxismo: o fim do estado de direito, capitalista.
  
 Está no cerne destes movimentos a defesa das conquistas sociais espelhadas na Constituição brasileira, bem como a luta pela elaboração de novos direitos direcionados às minorias. E fica nisso! É lamentável, pois se trata de um reducionismo impertinente das teses do filósofo alemão. É olhar para o arcabouço marxista e pinçar apenas algumas migalhas, as quais servirão como narrativa para compor os interesses políticos e de poder. Isto é o que temos de pauta da esquerda brasileira.

No entanto, se tais movimentos pretendem alcançar algum patamar de igualdade social com estas pautas, mais uma vez lamento dizer, estão fadados ao fracasso.

Para Karl Marx, a mola propulsora que move toda a história é a luta de classes. Esta é a história da própria sociedade.[1] Desde os primórdios até hodiernamente, a sociedade é produto desta luta; de um lado os opressores, e de outro, os oprimidos. É no contexto desta dialética que surge a figura do Estado.

Então, surge o seguinte questionamento: este Estado que os esquerdistas tanto amam e juram lutar até a morte para defendê-lo, quiçá aumentá-lo ainda mais, é o Estado almejado por Marx? Obviamente que não. Os defensores deste Estado atual o fazem pela simples razão de ser algo que transcende o indivíduo, uma entidade que alcançou o ideal de coletividade, um poder que paira sobre todos, indistintamente. 

A grande ironia é que este Estado é organismo da classe dominante. E a classe que domina é a burguesia. Portanto o Estado democrático de direito brasileiro é reprodução capitalista. Defendê-lo é o mesmo que perpetuar o poder de dominação do capital. Qualquer bem-estar social que dele procede é apenas ilusão para acobertar seus antagonismos.

Para Marx nunca haverá o fim das classes (ou a igualdade delas) se não houver o fim do Estado burguês-capitalista. O Estado é um aparato de domínio da burguesia. Esta é a visão antagônica de Estado professada pelo marxismo. É antagônica na medida em que se opõe aos preceitos hegelianos, segundo os quais o Estado é uma realidade metafísica, um reflexo do poder supremo transcendente.

Assim, para Marx, o Estado moderno se constitui em uma estrutura a serviço da ordem capitalista. O Estado é criação da classe dominante para assegurar e defender seus interesses. É um aparato de poder que surge da dinâmica do capitalismo. Escreve Alysson Mascaro: “O Estado é uma forma de opressão especificamente capitalista: o aparato político estatal moderno põe em funcionamento a possibilidade da reprodução contínua da exploração do trabalho por meio dos vínculos mercantis[...][2].”

De acordo com Mascaro o Estado é forma do capital. É o Estado que assegura o modo de reprodução capitalista[3]. Neste aspecto, todas as instituições de Estado e o direito se exprimem para garantir a ordem capitalista.   

Observe que não estou aqui defenestrando o capitalismo e defendendo o socialismo, ou o contrário. Apenas expondo a visão conceitual de Estado proposta por Karl Marx e demonstrando a incoerência da luta da esquerda brasileira. Desta forma, o movimento dos evangélicos pelo Estado de direito luta pela manutenção da forma de reprodução capitalista e, desse jeito, vão manter o status quo por muito tempo, para o mal deles e o bem de outros. Este movimento, como muitos outros de esquerda gritam “Lula Livre” e, sem o saber, o capitalismo agradece.   
    


[1] Marx, Karl. Manifesto comunista, p. 40. 1ª ed. revisada. São Paulo:  Editora Boitempo, 2016.
[2] Mascaro, Alysson. Filosofia do direito, p. 291. São Paulo: Atlas, 2010.
[3] Para este assunto recomendo a leitura da obra do Alysson Mascaro, Estado e forma política, ed. Boitempo.

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